segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Fachada Mostra Aracaju 2012


É com muita alegria que volto a escrever aqui nesse meu espacinho para falar de um assunto que tem tirado minhas noites de sono: MOSTRA ARACAJU.
Há alguns meses, meu amigo e agora parceiro Daniel Almeida me chamou para me juntar a ele nessa empreitada, e apesar da insegurança e falta de tempo, resolvi aceitar. Ficamos encarregados a transformar a fachada da casa principal, localizada na Reserva do Aimoré, futuro condomínio da cidade. Nessa época, há 3 meses atrás, a casa se encontrava bastante degradada, quase que abandonada mesmo... quase caímos para trás na primeira visita, ao imaginar o grande trabalho que teríamos pela frente!

Fachada antes da Intervenção (foto: Daniel Almeida)

Além disso, quase todos os ambientes internos de responsabilidade de outros arquitetos culminaram por inferir na nova fachada e por isso foi necessário quase que um malabarismo para criar uma unidade entre os diferentes quatro lados da casa (isso mesmo, não foi só uma, mas QUATRO fachadas!)

Durante da obra... (foto: Renata Melo)


Porém, ao invés de se desfazer do que havia ali e construir algo totalmente novo, sensibilizou-se por preservar o existente, a começar pelo telhado, que era a primeira vista, o elemento mais marcante da fachada, tanto pela sua cor original, verde escuro, quanto pelo seu desenho, que imprimem personalidade e define o estilo da chácara. Procuramos respeitar a linha arquitetônica existente, mesmo que não muito agradável aos nossos olhos naquele momento, valorizando-a, em busca de uma arquitetura saudável e realmente sustentável, sem muito custo ou desperdício de material.
 
Fachada Mostra Aracaju (foto: Victor Balde)


E é assim que eu acho que uma mostra de arquitetura deve ser. Ela deve mostrar às pessoas modelos de uma arquitetura possível, com boas idéias, se utilizadando do que a gente já está ali e muitas vezes não é visto com beleza.
A idéia então foi trazer cor, luz e vegetação, transformando a velha casa num ambiente colorido, alegre, delicado e aconchegante, como uma casinha de bonecas, 'onde todos os sonhos são possíveis", diferente da realidade vivida lá fora. Antes que o visitante entre à casa, ele é convidado a parar e vislumbrar a bela paisagem do entorno, no deck suspenso por luz, projetado todo em madeira, integrado à varanda existente.


Deck suspenso em madeira ( foto: Victor Balde)



Na intervenção, que se limitou basicamente à introdução de revestimentos e pintura novos, buscou-se o contraste entre o rústico (encontrado nos novos revestimentos de pedra e amadeirados) e a delicadeza de todo o colorido agora presente. Os guarda-corpos, o banco do deck e as testeiras do telhado, foram pintados com um verde quase azul (teal), cor escolhida para compor com o verde da telha e o azul do mar. As velhas e quase deterioradas esquadrias foram restauradas e se tornaram elementos de destaque, pintadas na cor amarelo, contrapondo-se à frieza do verde e trazendo certa "brasilidade" ao projeto. Para reforçar a idéia, nas almofadas, estampas de papagaios bem tropicais.


As cores brasileiras ( foto: Victor Balde)

Um Brasil apresentado de maneira menos tradicional, optando por exaltar o que é da terra. Os painéis pintados pelos artistas sergipanos Tintiliano e Duardo, junto às composições de ladrilhos hidráulicos, também produzidos artesanalmente no estado, além de trazerem um colorido mais sofisticado ao projeto, dão o merecido valor à cultura e à tradição genuinamente sergipanas.

Pintura de Duardo (foto: Victor Balde)


 A vegetação aparece de forma inusitada no teto-jardim sobre as varandas (único espaço realmente construído do projeto) e no jardim vertical emoldurado com madeira e iluminado por lamparinas feitas com garrafas de vidro transparente, fabricadas artesanalmente por mim e por Daniel Almeida, que é também lightdesign, levantando a discussão da consciência ecológica nos projetos arquitetônicos. Além disso, lâmpadas de LED de alta intensidade e alto índice de reprodução de cor foram utilizadas em vários pontos da fachada, reduzindo drasticamente o consumo energético. 


 Jardim Vertical e Pintura de Tintiliano (foto: Victor Balde)


Os alicerces aparentes receberam texturas na cor café, um marrom bem escuro que se camufla junto ao paisagismo, “soltando” a edificação do solo.   
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Alicerce em cor escura "solta" a edificação do solo (foto: Victor Balde) 


Focos de luz direcionam o olhar para os detalhes e elementos mais importantes da fachada. Os nichos iluminados no Hall de Entrada funcionam como um portal, hierarquizando a entrada e conduzindo o visitante para dentro da casa.

A bicicleta sugere um modo de vida saudável (foto: Renata Melo)

 Eu e Daniel estamos muito felizes com o resultado do nosso projeto e só temos que agradecer a todos os nossos parceiros, que cito logo abaixo, e também a nossos pais e amigos que ajudaram de alguma forma para que tudo isso fosse possível.
A Mostra Aracaju está sendo exposta na Reserva do Aimoré (vizinho ao Terêncio), das 16h às 21h, de terça à domingo, até o dia 30 de setembro. Contamos com a visita de todos vocês!



***Fachada Mostra Aracaju 2012***
Arquitetos: Carolina Vasconcelos e Daniel Almeida
Iluminação: Ponto Eletro
Revestimentos: Classe A
Ladrilhos Hidráulicos: Oficina de Ladrilhos
Madeiramento: Dunnas Madeiras
Paisagismo: Espaço Florescer
Mat. de Construção: Fartese
Decoração: Le Vanille Casa
Gesso: Designer Gesso
Quadros: Fast Frame
Almofadas: Xangotex
Bicicleta: Ecociclo Bicicleteria
Mão de Obra: Felpes Construções
Intervenções Artísticas: Tintiliano e Duardo Costa

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Eu e Lenine (A Ponte)

Foto: httpsp3.fotolog.com/photo312104mariodemetrius91268087769092_f.jpg

(eu canto pro rei da levada
Na lei da imbolada, na língua da percussão)

Lenine, mestre e inspiração

Eu já atravessei a ponte do paraguai
Um filme inspirou a ponte do rio que cai
É sucesso em campinas e na voz dos racionais
Mas a ponte da capital é demais

Projetada pra aproximar
Do centro o são sebastião, o lago e o paranoá
Desafogaram o tráfego na região
Visitantes de chegada, nova opção

Fique ligado, acompanhe passo a passo
Condomínios luxuosos de todos os lados
O congresso e o planalto colados
"aqueles barraco alí ó, vão ser retirados"

A ponte é luxo, nada é mono, só estéreo
Mil e duzentos metros, louco visual aéreo
Quem sobe só pra regular a antena
Reforça as pontes-safena

A ponte começou depois mas terminou
Bem antes que as obras do metrô
Quem mora fora do avião
Bate palma, aplaude, apóia, pede diversão

A ponte é muito, muito iluminada
O pôr-do-sol numa visão privilegiada
O povo quer passar, vê nela algo místico
A ponte virou ponto turístico

(esse lugar é uma maravilha,no horizonte, no horizonte)

A ponte é um vai e vem de doutor
Tem ambulante, tem camelô
Olha pra baixo, vê jet-ski e altos barcos
Olha pra cima, lá estão os três arcos

A ponte saiu do papel, virou realidade
Novo cartão postal da cidade
Um quer transformar ela em patrimônio mundial
Um outro num inquérito policial

Então, então, então na sua opinião, lenine,
Tá normal ou existe crime?
Se souber o caminho de rocha, me aponte

É...a ponte simboliza união
No nosso caso, brasília e o sertão
(a ponte não é de concreto, não é de ferro, não é de cimento)
É do vermelho, é do azul é de cada elemento

Leva o nome de jk
Que transferiu a capital do litoral pra cá
Lenine, te peço mais um favor (diz aí)
Cante a origem deste preto que se apresentou

(nagô, nagô, na golden gate...)

(quem foi?)
O projeto é do arquiteto alexandre shan
(comprasse, pagasse?)
Todas as contas foram aprovadas pelo TCU
(me diz quanto foi)
164 milhões de reais
É...bota fé...


(Composição: Gog)

Foto: Felippe César Santana

terça-feira, 19 de outubro de 2010

De volta!

Quase exatos dois anos depois... muito prazer, again!

Digo muito prazer porque a volta requer uma nova apresentação, pois decerto, não sou mais a mesma (ou não!).

Reli quase todos meus textos anteriores e relembrei que comecei isto aqui com “um assunto à altura de uma estréia”: Sex and the City. Portanto, que tal o recomeço com Sex and the City 2? Mais uma vez não estou aqui para fazer críticas cinematográficas ou qualquer coisa do tipo, mas apenas para falar de velhos queridos assuntos: Cinema, Moda, Arquitetura, Cidades, Comportamento, Relações, Amizade e Amor.

Há dois anos assisti ao primeiro longa concentrada no comportamento das personagens como conseqüência da cidade, tal como uma boa recém-formada em arquitetura e urbanismo. Por isso repito: eis aqui outra Carolina. Fico a pensar se também me tornei “vítima do sistema” (claro que sim!), agora mais velha, com menos tempo livre depois de quase 10 horas diárias corridas de trabalho...

Enfim... vamos ao filme... Dessa vez nossas meninas não povoaram tanto New York; elas pegaram um avião de primeira classe e foram parar em Abu Dhabi! E o ponto alto do filme se encontra no choque de costumes Oriente x Ocidente, de onde o diretor tirou tanto motivo para comédia e questionamentos. A comédia procede quase que 100% de Samantha que me fez chorar (juro!) de rir, enquanto os questionamentos vinham das demais que se encontravam perdidas sob a incumbência de ser mulher e ao mesmo tempo ser mãe, profissional ou esposa.

Ser mulher não é fácil e nunca será, mesmo depois de realizados tais sonhos como a maternidade, a profissão perfeita ou o casamento. Depois disso, fatalmente perguntas como “será que era isso mesmo que eu queria?” custam a calar... típico da alma feminina. E calar a boca das mulheres talvez seja o que, no íntimo, todo homem quer! Miranda foi muito feliz ao refletir que “os homens fingem estar confortáveis com mulheres fortes, mas muitos preferiam que comêssemos batatas com os véus”. E assim as moças e senhoras da tradicional Abuh Dabi se cobrem da cabeça aos pés, muitas delas escondendo até Louis Vitton da última coleção de primavera por debaixo de suas burcas, abayas e nikabs nada fashionistas!

Sou avessa a discussões feministas, mas diante de tais paradoxos colocados no filme, fica impossível incitar questões como essa. Paradoxo é única palavra que encontro para caracterizar a capital dos Emirados Árabes Unidos, uma das cidades mais ricas do mundo, onde sua arquitetura respira símbolos e significados, como tecnologia x tradição, arranha-céus x mesquitas antiqüíssimas.

Voltar ao passado e buscar a si mesma é tarefa infinitamente prazerosa. Despeço-me do post (mas não do blog) citando my favorite girl Carrie: “A vida nos muda e nem tudo precisa ser igual para sempre, mas é bom às vezes voltar a ser quem éramos, como reviver nem que seja dois dias num antigo lar...” . Muito bom perceber que me sinto bem à vontade aqui.

Lar doce lar...

terça-feira, 14 de outubro de 2008

REPETIÇÃO

"Vivemos num mundo massificado que nos impõe seus costumes e nos indentifica por nossas características mais superficiais. Nossas casas parecem iguais, nossas cidades parecem iguais, vemos os mesmos filmes, obedecemos à ditadura da moda, repetimos as opiniões impostas pelos meios de comunicação. Frequentemente nos sentimos perdidos em meio a toda essa repetição, sem mesmo nos darmos conta de que ansiamos por saber qual é o nosso lugar no mundo". *

Foto: miguel etges, em http://www.flickr.com/

* NIVEN, David, Ph.D. Os 100 Segredos das Pessoas Felizes. Rio de Janeiro: Sextante, 2001.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

ESPAÇO PÚBLICO

Qualquer pessoa pode ter acesso ao espaço público, por isso é um ambiente que favorece o encontro social e facilita o desenvolvimento de múltiplas atividades, principalmente as culturais e de lazer. Muitas praças e parques propiciam também a recreação infantil e atividades esportivas, através dos seus playgrounds e quadras poliesportivas.
Segundo Silvio Soares de Macedo, as praças são espaços de convívio onde todos os integrantes da família podem usufruir. “As crianças pequenas são levadas a playgrounds, crianças maiores e jovens vão jogar ou patinar, velhos vão jogar cartas ou bochas, cachorros são conduzidos por seus donos para o passeio diário”. (MACEDO, 1999, p. 77). Porém, conforme o autor, os hábitos urbanos começaram a se interiorizar com o advento da televisão, passando a fixar as pessoas mais dentro das suas casas. Assim, as ruas passam a ser ocupadas pela camada da população rejeitada pela sociedade.
Foto: Parque Trianon em São Paulo. Fonte: www.flickr.com, 23/10/2007.

Por ser um espaço onde qualquer pessoa pode ter acesso, na nossa cultura, infelizmente, ele é comumente interpretado como “espaço sem dono” ou “espaço de ninguém”. Portanto, o espaço público gera medo e nele as pessoas mantêm-se afastadas uma das outras como forma de se proteger. Considerando os parâmetros de Hall, as pessoas procuram se distanciar umas das outras cerca de 3,50 à 7,50 metros, distância a qual “uma pessoa pode empreender uma ação de fuga ou defesa, se ameaçada”. (Hall apud OKAMOTO, 2002, p. 175).
Assim, a vida pública cotidiana das pessoas volta-se para os locais fechados ou para os espaços privados como os shoppings centers, entendidos forçadamente como semi-públicos. Nesse panorama, o automóvel exerce uma forte influência no ser humano em diversos aspectos. Além da sensação de status e beleza, ele desperta um caráter de segurança e privacidade. “O carro é como uma espécie de bolha protetora do indivíduo na cidade” (NUNES & BENICCHIO, 2004). É um espaço privado individual no espaço público, uma parte da casa que se leva para a rua.
A utilização em exagero do carro nas cidades faz com que se diminua a quantidade dos espaços públicos nelas. Eles ocupam hoje em dia, segundo Nunes e Benicchio, 30% da área urbana na cidade de São Paulo por exemplo. “No lugar da praça, o shopping Center; no lugar da calçada, a avenida; no lugar do parque, o estacionamento; em vez de vozes, motores e buzinas”. (NUNES & BENICCHIO, 2004).
Os menos favorecidos, as pessoas com nível social menos elevado, são os que mais sofrem com essa diminuição do espaço público e falta de equipamentos urbanos, pois para elas não há mais opção de lazer.
Em contraposição a essa situação, cidades européias, como Copenhagen, na Dinamarca e Amsterdã, na Holanda, apóiam o uso de meios de transportes alternativos, entre eles a bicicleta. Essas cidades executam cada vez mais projetos de ampliação de ciclovias e bicicletários, em busca da cidadania, por uma cidade melhor e mais saudável. Dessa forma sobra mais espaço para as pessoas, pois essas cidades dão prioridade ao ser humano não aos automóveis.
Foto: Bicicletário em Amsterdã
Fonte: Cimatti (www.flickr.com/photos)
Quanto menos se usa a cidade, mais ela se torna perigosa. “O isolamento leva ao sentimento de solidão. A repetição infinita dos mesmos pequenos rituais leva ao tédio”. (NUNES & BENICCHIO, 2004). Com o usufruto da cidade, o ser humano descobre relações e percebe melhor a paisagem. Só assim será possível sentir a cidade e absorver as coisas boas que ela tem a nos passar.
Estamos acostumados a ir e vir todos os dias pela cidade e esta parece não nos passar nenhum tipo de sentimento. Mal percebemos as edificações ao nosso redor. É bem capaz de não sabermos responder sequer qual é a cor da casa localizada à esquina da nossa rua.
Vários motivos contribuem para essa falta de sensibilidade para com a arquitetura. Entre eles está o isolamento atual das pessoas em espaços privados, conforme dito anteriormente. Assim, as pessoas vivem num lugar onde “o meio não é seu, o meio é para passagem”. (NUNES & BENICCHIO, 2004). Nós abandonamos a cidade na medida em que nos encontramos sempre fechados dentro dos nossos veículos ou em condomínios, e o fato de não usufruirmos dela acaba por privarmos de percebê-la e senti-la.
BIBLIOGRAFIA: MACEDO, Silvio Soares de. Quadro do paisagismo no Brasil. São Paulo: Coleção Quapá, 1999./ OKAMOTO, Jun. Percepção Ambiental e Comportamento: Visão Holística da Percepção Ambiental na Arquitetura e na Comunicação. São Paulo: Editora Mackenzie, 2002./ NUNES, Branca & BENICCHIO, Thiago. Sociedade do Automóvel. São Paulo: Trabalho de Conclusão de Curso de Jornalismo da PUC, 2004.

*fragmentos de Monografia "ARQUITETURA... UMA PAUSA PARA A EMOÇÃO", apresentada ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Tiradentes em 2007. Autoria: Carolina A. Vasconcelos