segunda-feira, 30 de junho de 2008

Aqui Jás Uma Obra Modernista

“Quando a especulação imobiliária decide o que deve ser mantido.
Quando a especulação imobiliária decide o que é histórico.
Quando a especulação imobiliária define nossa cultura.”
(Danielle Menezes)


E a “evolução” continua a roubar nossa história e cultura, não permitindo que todos conheçam a sua própria cidade. O trânsito apressado não nos permite que olhemos para o lado e desta forma vamos perdendo a oportunidade de conhecer e admirar preciosidades. Quem consegue observar uma casa com calma, ver um detalhe em algum prédio, ou até mesmo observar o encanto das arvores em uma praça? É provável que muitos sequer conhecessem esta residência, pela qual hoje estamos de luto, chorando a sua morte. Ela representava um grande exemplar da arquitetura moderna, tão divulgada por Oscar Niemeyer. Sua beleza e singularidade às vezes encobertas pelo seu amplo jardim era alvo de admiração aos mais sensíveis transeuntes que por ali passavam. Beleza esta que só será possível, agora, vislumbrar em fotografias. É com tristeza que vou preparando meu álbum, a fim de mostrar aos meus netos, aquilo que um dia foi este exemplar da história da nossa cidade... NOSSA cidade!

(por Danielle Menezes e Carolina Vasconcelos – texto retirado de panfleto distribuído no dia 26/06/2008, quando pessoas se reuniram para manifestar seu descontentamento frente ao acontecido).

Foto do “LUTO”

Pilotis, planta livre, janelas em fita, espelhos d´água, colunas em “V” e um jardim exuberante de cuidadoso apuro são elementos que não mais se vê por aqui.
Tudo isso nos foi arrancado de uma vez só, em poucas horas.
Muitas vezes é preciso perder para poder valorizar, mas pena que em algumas delas sejam tarde demais para se fazer algo.
Me entristece bastante saber que ela não está mais ali compondo a paisagem do meu caminho pro trabalho. Me enfurece saber que serão construídas em seu lugar duas torres que provavelmente não será de um apuro arquitetônico a ponto de acalentar a dor.
Preconceito? Talvez... mas eu aposto que a perda foi irrecuperável.
LUTO!

Salve essa foto para mostar para os netos!

...

segunda-feira, 23 de junho de 2008

O Silêncio

antes de existir computador existia tevê
antes de existir tevê existia luz elétrica
antes de existir luz elétrica existia bicicleta
antes de existir bicicleta existia enciclopédia
antes de existir enciclopédia existia alfabeto
antes de existir alfabeto existia a voz
antes de existir a voz existia o silêncio

o silêncio
foi a primeira coisa que existiu
um silêncio que ninguém ouviu
astro pelo céu em movimento
e o som do gelo derretendo
o barulho do cabelo em crescimento
e a música do vento
e a matéria em decomposição
a barriga digerindo o pão
explosão de semente sob o chão
diamante nascendo do carvão
homem pedra planta bicho flor

luz elétrica tevê computador
batedeira, liquidificador
vamos ouvir esse silêncio meu amor
amplificado no amplificador
do estetoscópio do doutor
no lado esquerdo do peito, esse tambor

(Carlinhos Brown / Arnaldo Antunes)

...

Antes de existir tanta coisa existia várias outras coisas...
E me parece que antes de tudo isso a gente era mais "gente", mais ser humano, mais sentimento...
Menos tecnologia, menos ganância, menos distâncias.
Menos sons, menos stress, mais vento soprando, mais pássaros cantando.
Mais mãe, mais pai, mais filho. Menos babá, menos televisão, mais almoço, mais jantar, mais domingo no parque.

Que saudade de um tempo que nem vivi...

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Sergipe é o país do forró e Aracaju a capital da qualidade de vida

Dedico aos meus amigos jovens arquitetos...

foto: Mário Luna (http://www.flickr.com/photos/10972791@N05/1221944731/)

Cito trecho da reportagem cedida por Jean-Lois Cohen* à Revista Projeto Desing, janeiro 2008, quando lhe foi perguntando qual recomendação ele daria aos jovens arquitetos brasileiros.

“A mensagem a ser transmitida é a atenção contra a rápida assimilação da arquitetura das revistas e difundida pelas mídias. O dinamismo, a criatividade e a inventividade presentes nas cidades brasileiras deverão alimentar as respostas específicas. O importante é que os arquitetos sejam primeiramente observadores. O que fez de Le Corbusier um grande arquiteto foi sua capacidade de observar - para, por vezes, logo em seguida opor-se. Eu ainda diria que a arquitetura é uma cultura de projeto, mas também um conhecimento, e ainda a construção de um saber visual estrutural sobre a cidade, uma observação que os brasileiros devem fazer frente à sua porta, antes de pensar nos grandes mestres nacionais ou nas figuras da atualidade”.

Eu, enquanto jovem arquiteta que sou, aqui comigo, observo....observo...observo... e acabo sendo contrária a milhões de coisas e ocorrem em minha linda e pacata cidade de muitos festejos de São João.

Das duas afirmações muito difundida (com certo exagero até) que intitulam o post, concordo plenamente com a primeira. Sergipe me parece mesmo, entre esses meses de junho e julho, um país, onde seus municípios se configuram como cidades-estados, cada um com suas características culturais particulares fortemente identificadas quanto às festas típicas. Uma beleza! Muita música e comidas deliciosas que nos fazem esquecer dos problemas e de repente até veneramos alguma figura ilustre como o responsável por tudo. (!)

Mas e Aracaju? Será mesmo esta a capital da qualidade de vida? Será que qualidade de vida se resume a pegar um carro e ir até ao calçadão mal cheiroso da 13 de julho fazer atividade física? Ou será que significa ir morar frente à praia, onde se despejam o próprio esgotamento sanitário?

Só no nosso país mesmo... Pois é, somos referência simplesmente porque a maioria das cidades é, de longe, muito pior!

Aqui, a nossa frota de veículos automotores ainda não conseguiu poluir tanto o ar, as ruas ainda não são tão inseguras, e de quebra ainda podemos nos banhar em águas que ainda não são totalmente poluídas. Lamento informar que tal situação tem seus dias contados. E explico o por que:

Mensalmente são licenciados na cidade cerca de 500 veículos (imagina o transito daqui a 3 anos! E imagine agora a qualidade do ar!). Nós aracajuanos, cada dia que passa deixamos de utilizar nossos espaços públicos para nos trancafiar em condomínios fechados ou em shoppings centers por exemplo. Se nós, cidadãos, deixamos nossas ruas às moscas quem tomará conta delas? Quanto à poluição em nossas praias, repito que nossas águas ainda não estão com perda total, mas em algumas localidades como na Coroa do Meio e na Atalaia não é aconselhável o banho. E o que se espera de uma praia que está recebendo todos os dejetos da Zona de Expansão na falta de uma rede de tratamento? Diga-me você...

Pois bem, são apenas observações de uma jovem arquiteta.

* Cohen é historiador e crítico de arquitetura, professor de história da arquitetura no Instituto de Belas-Artes da Universidade de Nova York e na Universidade Paris 8, ex-diretor do Instituto Francês de Arquitetura.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Muito Prazer!

Para uma estréia de classe, nada mais adequado do que escolher um assunto à altura.
Nessa última semana chegou aos cinemas brasileiros Sex and The City, longa que se constitui na continuação de uma das séries mais bem sucedidas da tv. Tal assunto reúne de uma só vez minhas grandes paixões: Cinema, Moda, Cidades, Comportamento, Relações, Amizade e Amor.
...Love... Palavra sempre bastante citada por Carrie Bradshaw... A busca, a espera, a conquista, as conseqüências... Numa cidade como New York, lugar símbolo do capitalismo, será que é possível se encontrar o amor verdadeiro?
Bem...acredito que o amor verdadeiro possa ser descoberto em qualquer lugar, seja no boteco da esquina ou na mais romântica cidade do mundo Veneza. Mas convenhamos que a configuração da maioria das cidades atuais não facilita as coisas!
As distâncias são cada vez mais longas... o tempo cada vez mais curto... e o trânsito... tsc... cada vez mais caótico. Onde estava o tempo que deixei aqui? Era para brincar com o Brady...? E aquele outro que era para fazer sexo com o Steve...? Droga! Acho que perdi no trânsito... ou fazendo hora extra pro trabalho... (Tais frases encaixariam perfeitamente na trama, na voz da ocupadíssima executiva Miranda).
Por trás de todo o glamour do filme, podemos ver que as relações estão se tornando um negócio, mesmo quando se trata de alguém tão sonhador e passional, como a protagonista.
Esse é o modo de vida que se leva no mundo globalizado em que vivemos, onde o tempo parece acelerado e a cidade com um ritmo agressivo e até mesmo desumano.
Mas as grifes... a moda... o status... o glamour... ah! Isso encanta! Quem não queria morar numa cobertura ao lado do Mr. Big? Qual mulher não se idealiza, pelo menos por um momento, nesse vestido de noiva assinado Vivienne Westwood ? O sangue do consumismo corre em nossas veias...



Mas, como disse Carrie, nada é para sempre, os sonhos mudam, as tendências vêm e vão, mas a amizade... nunca sairá da moda.

Recomendo às meninas mudarem-se para Paris, onde tudo ao redor é ainda mais fashion e a cidade mais humanizada...