Foto 43: Edifício E-Tower “Gritando” por Atenção. Fonte: http://www.arcoweb.com.br/
Citemos o Edifício E-Tower, situado na Vila Olímpia, junto à marginal Pinheiros, na cidade de São Paulo, projeto assinado pelo escritório Aflalo & Gasperini Arquitetos.
Chama atenção por ser monumental em todos os seus aspectos, característica atualmente buscada de maneira até incessante, na arquitetura contemporânea, o que se constitui no reflexo de uma cultura globalizada e consumista. Segundo Pallasmaa, atualmente “tudo tem que ser rápido e instantâneo. Ademais, há um excesso de todas as coisas. Sobretudo de informação. Se quiseres angariar atenção, tens que falar alto”. (Pallasmaa apud Revista Viver Cidades, n. 18, s/data, p. 3).
E o edifício aqui parece “gritar”. E não se conforma em fazê-lo uma só vez, e por isso o faz três vezes.
Primeiramente causa impacto aos olhos seu excesso de luz, devido à película de vidro espelhado e granito polido que revestem todo o edifício, exagerando assim, do sentido da visão, pois, como foi dito, segundo Pallasmaa, a imagem visual é a que causa um impacto mais imediato e instantâneo.
Devido à sua escala proporcional e, até mesmo, exageradamente maior que a escala humana, o edifício de 148 metros de altura, causa um impacto ainda maior, num segundo momento. Ele consegue ser imponente mesmo frente às edificações do entorno, que já possuem uma escala predominantemente maior do que a do ser humano. Seu hall de entrada possui uma altura superior a três pés direitos com, 10 metros, o que dar um ar de sofisticação e imponência, comum às obras contemporâneas do séc. XXI., inspiradas inconscientemente na arquitetura clássica romana, que, segundo Zevi, é um estilo que “serve para os interiores (...) em obras que impressionam pela grandeza e pelas dimensões, mas não comovem pela inspiração; obras quase sempre frias, onde não nos sentimos em casa”. (ZEVI, 1918, p. 70).
Em terceiro lugar, o edifício chama a atenção pelo diálogo que faz entre seus volumes escalonados, aguçando o sentido do tato, que nos permite a noção de tridimensionalidade.
Contudo, este é apenas um dos tantos edifícios que hoje em dia são cada vez mais comuns. Infelizmente, essas edificações são vistas por nós como o símbolo do progresso e riqueza das grandes metrópoles. Apesar de obterem seu devido valor arquitetônico, pois o projeto foi premiado pela Asbea, na categoria “edifícios de serviço” (Revista Projeto Design n. 322, 2006), e até urbano, pois “Os autores criaram uma generosa praça no recuo frontal, dividindo espaço com um espelho d’água” (http://www.arcoweb.com.br/, 24/11/2007), o seu excesso nas cidades causa opressão.
Edificações como esta impõe uma “seleção natural” que afasta grande público, ditando quem deve ou não adentrá-lo. Não é qualquer pessoa que se sente à vontade para tal. Antes disso, o indivíduo chega a se questionar se está “à altura” daquela edificação, se está mesmo bem vestido ou se tem poder aquisitivo suficiente.
Conforme explicou Pallasmaa, é preciso saber usar da escala. As antigas catedrais, por exemplo, “falavam alto”, mas além de impressionar, te convidavam a entrar e proporcionavam um encontro íntimo consigo mesmo. (Pallasmaa apud Revista Viver Cidades n. 18, p. 3).
fragmentos de Monografia "ARQUITETURA... UMA PAUSA PARA A EMOÇÃO", apresentada ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Tiradentes em 2007. Autoria: Carolina A. Vasconcelos.
BIBLIOGRAFIA: BOTTON, Allain de. A Arquitetura da Felicidade. Rio de Janeiro: Rocco, 2007./ FERNANDES, Patrícia de Aguiar. Ser Arquiteto: Um Resgate de Sua Essência. Aracaju: Monografia apresentada ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Tiradentes, 2006./ Revista Viver Cidades, n. 18, sem data./ ZEVI, Bruno. Saber Ver a Arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 1918./ Revista Projeto Design, 322. Dezembro, 2006./ www.arcoweb.com.br/arquitetura, 24/11/2007, 19h.
"O padrão arquitetônico também segrega, separa, expulsa" (CARLOS, Ana Fani A. A Cidade. São Paulo: Contexto, 2007, p. 21)
2 comentários:
Muito bom, Carol! Sua monografia deve ter sido muito interessante.
Posso aqui registrar a relação que voce faz entre imponência e beleza, que hoje, especialmente na desigual sociedade brasileira, estão mais associadas do que nunca. Torna-se belo aquela arquitetura (ou mesmo aquele carro) que transmite imponência, em detrimento de outras qualidades ou de outras emoções.
Um abraço
caramba... ainda n tinha parado para pensar nessa questão dos automóveis...
Pois é...a arquitetura, assim como toda a arte é apenas um reflexo do sociedade na qual se está inserida.
E hj em dia, a "lei dos mais fortes" que reina no nosso mundinho capitalista nada mais é do q a "lei dos mais ricos". E incoscientemente ou não passamos admirar e respeitar os mais ricos, com seus carros gigantescos, sua fisionomia eternamente jovial movida à cirurgia pásticas, suas edificações espelhadas com número de andares a bater record cada vez mais e etc
"o essencial é invisível aos olhos" (Saint Exupery)
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